O Medo como Raiz do Bloqueio Criativo

No ápice da sessão de terapia, o cliente olha para a terapeuta e diz:

— Depois de tudo o que conversamos neste último ano, percebo uma coisa: é sempre o outro que termina comigo.

— Conte-me mais sobre isso — encorajou a terapeuta.

— Veja só, nos últimos projetos de trabalho, foram os clientes que desistiram. Nos meus relacionamentos, foi sempre o outro que decidiu terminar. Parece que nunca sou eu. Não entendo por quê.

A terapeuta fez uma pausa antes de responder:

— Sabe, eu atendo pessoas há mais de 15 anos, e algo que aprendi é que cada pessoa segue um caminho único. Muitas vezes, uma pessoa pensa que a vida seguirá um caminho, e quando menos se espera algo acontece, os desdobramentos são inesperados. Quando você diz que é sempre o outro que termina, penso que quando algo não está funcionando na relação, o outro percebe e toma a decisão de terminar. Pelo que já nos conhecemos, sei da sua inteligência e capacidade de interpretar o mundo, então, penso não é um questão de saber ler o ambiente, intuo que pode haver uma resistência à mudança dentro de você. Faz sentido?

O cliente respirou fundo, absorvendo a ideia.

— Algo me diz que sim. Como você pode me ajudar?

— Podemos começar por aí. A resistência à mudança geralmente nasce do medo. Quando não enfrentamos esse medo, ele acaba nos controlando. O apego que você menciona, seja aos relacionamentos ou aos projetos, é uma expressão desse medo. Então, pergunto: o que você temia que acontecesse se fosse você a tomar a decisão de terminar algo? O que aconteceria se você tivesse escolhido sair do projeto? E se você tivesse encerrado o namoro?

O cliente hesitou, refletiu e depois disse:

— Acho que preciso pensar mais sobre isso.

— Claro, podemos retomar quando você estiver pronto.

A sessão terminou em silêncio, ambos em reflexão.

Trago essa história para mostrar que, na raiz do bloqueio criativo, pode haver um medo profundo das mudanças que acontecem quando desapegamos da forma atual de criar. Muitas vezes, o que nos paralisa é o medo do desconhecido, aquele que nos impede de acessar algo novo. Esse medo não está restrito à criação artística; ele se manifesta em várias áreas da nossa vida, fazendo com que nos agarremos ao que conhecemos, às fórmulas que nos parecem seguras, mesmo que isso nos mantenha presos a padrões desgastados e ultrapassados.

O bloqueio criativo é, muitas vezes, um sintoma de uma resistência maior à mudança, uma aversão à vulnerabilidade que a criação exige. Criar algo novo e autêntico nos coloca em uma posição de exposição, de fragilidade — e isso assusta. Repetir fórmulas antigas nos dá uma falsa sensação de controle e segurança, mas ao mesmo tempo nos priva da verdadeira expressão criativa, daquela que está esperando para ser liberada.

Imagine que sua criatividade é como um rio. O rio precisa fluir, e para isso, ele precisa enfrentar pedras, curvas e novas paisagens. A resistência à mudança funciona como um dique que bloqueia esse fluxo. Para criar algo realmente novo, precisamos nos desfazer de antigas crenças e seguranças. Precisamos abandonar a ideia de que a vulnerabilidade é uma fraqueza e, ao invés disso, aceitá-la como parte essencial do processo criativo. Esse ato de coragem, de se abrir ao desconhecido, é o que libera as energias adormecidas que podem nos ajudar a crescer.

Então, pergunto a você: o que você está segurando que impede sua liberdade criativa? Do que você tem medo de abrir mão? Quando enfrentamos o medo e permitimos que a vulnerabilidade esteja presente, novos horizontes criativos se abrem.

Escrito por

Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.

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