A Curiosidade Como Chave para o Desbloqueio Criativo

O Silêncio da Mãe

Arthur era uma criança inquieta e cheia de perguntas. Seus olhos brilhavam sempre que algo novo surgia.

“Mãe, por que o céu é azul?”
“Mãe, como a música entra na rádio?”
“Mãeeeeeenheeeeeeeee…..” 

Seus dias eram preenchidos por desenhos coloridos, histórias inventadas e pequenos espetáculos improvisados na sala. Ele transformava panos velhos em fantasias e usava a tampa da panela como tambor. Mas toda vez que ele se aproximava de um certo assunto – a família e o passado –, a mãe o interrompia.

Uma vez, com apenas seis anos, ele encontrou uma velha fotografia na gaveta da mãe. Era em preto e branco, mostrando um homem equilibrando-se em uma corda bamba. Ele correu até ela, exclamando:

“Mãe, quem é esse homem?”

A expressão dela mudou instantaneamente. Ela pegou a foto com delicadeza, guardando-a de volta na gaveta.

“Isso não é importante, Arthur. Vai brincar com seus desenhos.”

Click. A gaveta fechou, e junto dela, a curiosidade de Arthur. As perguntas continuaram, mas as respostas nunca vieram. À medida que crescia, ele percebeu que era melhor não perguntar. As palavras dela sempre pareciam um muro: “Deixa isso pra lá, Arthur.”

Aos poucos, o menino que pintava e escrevia histórias começou a guardar seus cadernos no fundo do armário. O silêncio ao redor do passado da mãe parecia tão pesado que sua curiosidade foi murchando. A criatividade, antes tão vibrante, virou algo distante.


Os anos passaram. Arthur, agora adulto, estava empacotando caixas para uma mudança. Em um canto empoeirado do sótão, viu algo que nunca havia notado antes: um baú antigo, fechado com um cadeado enferrujado. O coração acelerou. Pegou uma chave que estava pendurada no mesmo lugar. Colocou a chave no cadeado. O cadeado rangeu com um som estridente, como se protestasse contra anos de abandono. A madeira do baú estalou quando a tampa foi aberta, soltando um leve suspiro de poeira acumulada. Abriu o baú com cuidado.

Ao abrir o baú, deparou-se com uma coleção peculiar: sapatilhas gastas, um chapéu com lantejoulas, uma maleta de maquiagem desbotada e, no meio de tudo, uma pilha de fotos. Arthur folheou as fotos, que mostravam cenas vibrantes de um circo. Ele reconheceu a mãe em uma das fotos, segurando um arco flamejante enquanto sorria para a câmera.

A porta rangeu. A mãe entrou no cômodo com uma pilha de toalhas. Quando viu o filho com as fotos na mão, parou no meio do passo. Arthur a olhou com surpresa.

“Mãe, o que é isso? Você era do circo?”

Ela suspirou profundamente, sentando-se em uma velha cadeira.

“Sim, Arthur. Eu cresci no circo. Seu avô era equilibrista, sua avó fazia malabares… e eu era domadora de fogo.”

Arthur mal podia acreditar.

“Por que você nunca me contou? Parece… incrível!”

Ela abaixou os olhos, com um sorriso triste.

“Porque não foi, Arthur. O circo era nossa paixão, mas nos levou à falência. Seu avô perdeu tudo tentando sustentar o espetáculo. Quando eu decidi sair, prometi a mim mesma que meu filho não se envolveria em algo tão… instável. Não queria que você passasse pelo mesmo.”

Arthur ficou em silêncio, digerindo as palavras. Ele olhou para as fotos novamente. Não via ruína. Via cor, vida, movimento. Algo dentro dele se acendeu. Como se a história do circo tivesse acordado aquela parte adormecida da infância.

Naquela noite, Arthur pegou um caderno velho, que há anos não usava, e começou a desenhar outra vez.


A Curiosidade como Chave para o Desbloqueio Criativo

O que Arthur viveu não é incomum. Quantas vezes nossa curiosidade é bloqueada por medos, crenças ou até boas intenções de outras pessoas? No entanto, a curiosidade é a força que nos leva a explorar, conectar ideias e criar algo novo. A curiosidade é mais do que um desejo superficial de saber, é um movimento que nos faz crescer e nos conectar com o mundo.

Curiosidade é o que nos leva a questionar padrões e explorar caminhos. É o movimento de olhar além do óbvio, de querer saber o que está por trás do silêncio. Quando nos permitimos ser curiosos, abrimos portas internas que haviam sido fechadas por medos, crenças ou circunstâncias. E ao abrirmos essas portas, encontramos energia criativa para transformar.

No caso de Arthur, foi sua curiosidade que quebrou o silêncio de sua família, permitindo que ele recuperasse uma parte de si mesmo que estava adormecida.

E você, o que a sua curiosidade poderia revelar sobre si mesmo ou sobre o mundo ao seu redor? Talvez haja histórias, habilidades ou paixões esperando para serem redescobertas. Não deixe que o medo ou o silêncio apaguem o brilho da sua curiosidade.

Hoje, pegue um caderno e responda nele a seguinte pergunta: “O que está esperando pela minha curiosidade?”

E permita-se explorar essa pergunta. Quem sabe o que você pode encontrar?

Escrito por

Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.

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