A Tríade do Bloqueio Criativo
A Orquestra Desafinada
O maestro estava impaciente. À sua frente, os músicos ajustavam seus instrumentos, mas algo não parecia certo. Ele ergueu a batuta e pediu que começassem. O som que veio foi um desastre. Cada um tocava por si, sem escutar os outros. O violinista, o baterista e o pianista, apesar de estarem na mesma orquestra, pareciam duelar entre eles, cada um tentando sobrepor o outro.
O violinista ergueu seu arco com delicadeza. Seu violino reluzia sob a luz, e seus olhos brilhavam com o desejo de criar algo sublime. Ele começou a tocar uma melodia suave, mas hesitou.
– Não consigo – murmurou, abaixando o arco. – Meu som é abafado pelo barulho. Preciso de silêncio para que minha música seja ouvida.
Lá no fundo, o baterista deu uma risada seca.
– Silêncio? É assim que você acha que vai salvar a música? – Ele bateu forte na bateria, descompassado. – É melhor tocar alto antes que nos esqueçam. Se você não vai liderar, eu lidero.
E o pianista, elegante como sempre, sorriu e interveio:
– Vocês estão complicando demais. Não importa o que iremos tocar, desde que o público aplauda no final. Eu sei o que eles querem ouvir. Deixa comigo.
O maestro observava a cena. Cada um parecia genuíno à sua maneira, mas a música estava perdida. Ele respirou fundo, colocou a batuta no pedestal e falou:
– Chega! Todos vocês têm razão, mas também estão errados. Não estamos aqui para ver quem tem mais razão. Se continuarmos assim, ninguém vai ouvir o que queremos tocar. Vamos começar de novo. Quero ouvir cada um, mas no meu tempo.
O violinista baixou a cabeça, aliviado. Começou a tocar uma melodia delicada da música, quase tímida, mas que preenchia o silêncio como luz em um quarto escuro. O baterista ajustou o ritmo, agora acompanhando o violinista, sem a urgência de se fazer notar. O pianista esperou, escutou e, pela primeira vez, tocou algo que parecia vir do coração, sem a necessidade de agradar.
E a música fluiu.
Vozes do Eu Real
Essa orquestra está dentro de você. O maestro, sua consciência criativa, precisa reger as três vozes que habitam seu interior: o Eu Superior, o Eu Inferior e o Eu Máscara. Quando essas vozes internas não se escutam, o resultado é o caos.
O Eu Superior é como o violinista. Ele carrega sua inspiração mais pura, mas depende de espaço e silêncio para se manifestar. Quando ignorado, ele se cala, e a criatividade parece desaparecer.
O Eu Inferior é como o baterista. Ele é movido pelo medo e pela necessidade de proteção. Em sua tentativa de manter tudo sob controle, pode se tornar agressivo, descompassado e até mesmo sabotador. Mas, quando acolhido, ele é a base que sustenta o ritmo.
O Eu Máscara é o pianista. Ele é um showman, criado para impressionar, mas sua música só ressoa de verdade quando ele escolhe tocar algo autêntico.
Assim como o maestro na orquestra, você precisa ouvir cada uma dessas vozes, partes do eu interior. O desbloqueio criativo não acontece ao silenciar uma voz e amplificar outra, mas ao integrá-las em harmonia. Sua criatividade flui quando você escuta e harmoniza suas vozes internas, ao invés de deixá-las competir pelo controle.
Hoje, dedique alguns minutos para escutar sua própria orquestra. Pegue um caderno e escreva um diálogo entre essas três vozes sobre algo que está bloqueando sua criatividade.
Pergunte ao Eu Máscara: “O que você está tentando mostrar? Isso reflete quem eu sou de verdade?”
Pergunte ao Eu Superior: “Qual é a intenção verdadeira por trás dessa criação?”
Pergunte ao Eu Inferior: “O que você teme? Como posso acolher esse medo?”
Leia suas respostas em voz alta, como se estivesse ouvindo a música se formar. Assim, você começará a reger sua própria orquestra interna. Afinal, o maestro é você.
Escrito por @jamesvasques
Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.
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