Transferências Emocionais e a Repetição de Padrões Negativos

Estava diante de uma grande oportunidade. Um colega, sabendo que eu precisava de trabalho, me apresentou a chance.

Enquanto ele falava sobre a oportunidade, comecei a sentir um desconforto crescer dentro de mim. Eu me pegava divagando, os pensamentos fugindo da conversa para lugares inesperados. A voz dele ia ficando cada vez mais distante, quase abafada, enquanto eu formulava perguntas que, à primeira vista, pareciam sensatas: Me esclarece isso aqui? Me fala mais sobre aquilo ali? Será que vale a pena arriscar tanto?

— Você acha que consegue fazer isso? — ele perguntou, os olhos cheios de expectativa.

Eu hesitei. Uma parte de mim queria dizer que sim, que estava pronto para o desafio. Mas outra parte não conseguia deixar de lado uma sensação incômoda. Comecei a listar objeções e justificativas, uma após a outra, tentando ganhar tempo. Cada motivo parecia mais plausível do que o anterior.

Foi então que ele interrompeu, me olhando nos olhos, quase impaciente, me deu um bronca:

— Acho que você deveria estar me dando soluções, e não problemas.

Houve um momento de silêncio. Suas palavras reverberaram no ambiente. E de repente, algo se partiu dentro de mim, como se eu tivesse acordado de um transe. Pela primeira vez, percebi o que estava acontecendo: aquele desconforto, aquelas dúvidas incessantes, não eram sobre o projeto em si. Não se tratava daquela oportunidade, mas de algo muito mais profundo.

Eu estava, mais uma vez, transferindo meus medos antigos para o presente. Estava vivendo o eco dos fracassos anteriores e me deixando guiar por fantasmas do passado.

Olhei para o meu colega e, por um instante, respirei fundo. Ele não sabia, mas, naquele momento, algo em mim começava a mudar. Decidi que, pelo menos desta vez, eu daria uma chance real ao que estava à minha frente.

— Vamos fazer assim — eu disse, procurando sorrir. — Podemos começar com um projeto piloto, algo pequeno, um teste. Se funcionar, continuamos e ampliamos a escala. O orçamento pode ser simbólico por enquanto, só para termos uma base.

Meu colega aceitou a proposta, mas depois daquela conversa, ele simplesmente desapareceu. Eu também não procurei saber mais sobre o assunto. Era como se, de algum modo, soubesse que o meu entusiasmo era falso, uma máscara para esconder minhas inseguranças.

Quantas oportunidades como essa já surgiram para mim — e, talvez, para você também? Quantas vezes nos sabotamos antes mesmo de tentar, deixando que o passado influencie o presente? Ficamos presos às nossas próprias projeções, enxergando o novo sempre como uma ameaça, nunca como uma chance de fazer diferente.

É doloroso perceber que muitas das oportunidades que deixamos escapar não foram perdidas pelas circunstâncias, mas por nós mesmos. Mas, também há algo profundamente libertador nisso. Se o problema está em como vemos, então a mudança está ao nosso alcance.

Pergunto a você: quantas vezes seus medos moldaram suas escolhas sem que você percebesse? E quantas vezes uma decisão diferente poderia ter levado a um caminho novo?

O desbloqueio criativo começa quando decidimos, conscientemente, parar de reviver o velho drama e, enfim, nos permitimos viver algo novo.

Escrito por

Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.

Publique um comentário:

Comentário

Type at least 1 character to search
Whatsapp
(15) 9 9717.6818
Acompanhe no Instagram