A sua infelicidade está tentando te ajudar a criar melhor
O conteúdo que não engaja
A criadora de conteúdo acordou cedo, preparou o café e abriu o computador.
Mais um dia criando. Escreveu, revisou, gravou, editou, fez legenda, ajustou os cortes. Publicou com aquele misto de cansaço e esperança.
E então… nada.
Nenhuma curtida.
Nenhum comentário.
Zero compartilhamento.
Veio o silêncio.
Aquele que machuca mais que a crítica.
Ela tentou de novo. E de novo. E de novo.
Até que veio o desânimo, o pensamento de desistir,
a sensação de que talvez “não nasceu pra isso”.
Mas, às vezes, o que parece fim é só o começo de uma conversa mais profunda com o próprio ato de criar.
A infelicidade é uma bússola
Mas e se essa tristeza sentida não fosse um erro?
E se ela estivesse tentando te mostrar algo que você ainda não entendeu?
A infelicidade é um sinal.
Um aviso silencioso de que algo na rota precisa ser ajustado.
Não é castigo.
É convite à consciência.
A dor diz: “ei, tem algo fora do lugar.”
E o criador maduro entende: não é hora de desistir, é hora de escutar.
E foi nesse ponto que uma lembrança antiga me atravessou,
uma história que, de certo modo, fala exatamente sobre isso.
A história de um aprendizado
Certa vez, lendo Propaganda, de David Ogilvy, me deparei com um capítulo chamado “Os EUA ainda estão no topo”.
Ele dizia que, em 1983, o salário semanal médio de um indiano era de cinco dólares, e que isso tornava quase impossível manter um mercado publicitário no país. Mas, ao mesmo tempo, reconhecia:
os indianos dominavam profundamente as técnicas de publicidade.
Pense nisso:
um publicitário indiano poderia estudar todos os livros,
aprender todas as técnicas,
e ainda assim, não conseguir grandes resultados.
Não por incompetência,
mas por contexto.
Imagine o quanto de publicitários indianos talentosos quebraram até entender que o negócio é economicamente inviável?
O mais inteligente, para um publicitário indiano nesse contexto,
é diante da crise, admitir a dor, buscar ajuda e recalibrar a rota.
Porque o que funciona num contexto, não necessariamente funciona em outro. E entrar em contato com essa verdade não é fracasso, é inteligência emocional.
Essa história me fez perceber que o mesmo vale para nós, criadores.
Às vezes, insistimos em contextos que já não sustentam quem nos tornamos.
O que essa dor está tentando me ensinar?
A gente tem o hábito de projetar a frustração: no algoritmo, no cliente, no público, no mercado.
Mas a pergunta que muda tudo é:
“O que essa dor está tentando me ensinar?”
Talvez ela esteja mostrando que o problema não é o público – é a pressa.
Não é a falta de talento – é o excesso de ruído.
Não é o fracasso – é o desalinhamento.
Quando a gente pára pra escutar o incômodo, ele revela o que está torto. E o que parecia fraqueza, vira direção.
E é justamente aí que nasce o verdadeiro trabalho interno:
transformar a dor num novo sentido.
Realinhar e seguir
A infelicidade não veio pra te parar.
Veio pra te reposicionar.
Pra te lembrar que criar não é produzir sem parar
é escutar o que pede vida,
e deixar o resto morrer.
Quando você aceita esse movimento, o fluxo volta.
E o que antes parecia fracasso, vira clareza.
Porque, no fim, é simples:
toda vez que você se escuta com coragem, sua obra respira de novo. E talvez seja isso o que a infelicidade tenta dizer o tempo todo:
escute.
A dor só quer que a vida volte a circular dentro da sua obra.
Escrito por @jamesvasques
Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.
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