Quando você se abandona para “agradar” (e a obra murcha)
O músico soltou o verbo
Dias atrás, Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, disse algo que fez barulho:
“Com todo o respeito… que o fã se foda!”
Ele explicou que cada disco é uma fotografia de um momento da banda, um retrato da energia que existia naquela época. E que nenhum artista pode se manter igual ao que era há vinte anos.
“É isso que o fã não entende.”
Quando o artista tenta agradar e se força a ser o mesmo de duas décadas atrás, ele não está sendo fiel ao público, está apenas vendendo a própria alma criativa. E dessa maneira o som perde verdade. A obra murcha.
Quando o “sim” vira abandono
Esse é um dilema comum a todo criativo.
Pra onde a gente vai quando diz “sim” a algo que vai contra o que acredita?
Como publicitário, já vivi isso várias vezes.
Já fiz um enxoval de ressalvas para tentar proteger um trabalho. E também já me calei, com medo de parecer uma ‘pessoa difícil’. Confundia limite com egoísmo.
Mas com o tempo entendi que há uma lado saudável no egoísmo. Aquele que nasce da responsabilidade com a própria visão. Ele não exclui o outro, apenas coloca cada um no seu lugar certo.
Quando você diz “sim” só para agradar, está se abandonando.
E desse abandono nascem a raiva, a culpa e o cansaço de fazer algo que não ressoa com a própria essência.
O falso altruísmo suga a força criativa
Esse tipo de “bondade” é uma armadilha.
Você acha que está sendo generoso, mas, no fundo, está barganhando.
O falso altruísmo seca a energia criativa.
Você continua produzindo, mas sem alma.
As peças perdem coerência, a energia esfria, as relações se tornam pesadas.
A força criativa vai embora, e o que sobra é só esforço.
O “não” que dá vida
O ponto de virada vem quando o “eu superior” assume.
Aquele que entende que um “não” dito com clareza não é rejeição, é direção.
Dizer “não” à distorção é dizer “sim” à essência.
E esse “não” pode virar proposta:
“Não desse jeito, mas posso te mostrar outro caminho.
Um caminho mais coerente, mais vivo, mais verdadeiro.”
Quando isso acontece, a energia muda.
O trabalho volta a pulsar.
As ideias ganham força.
O dinheiro entra, porque há coerência.
As relações se tornam adultas, transparentes, sustentáveis.
Quando você não se abandona
Agradar é fácil. Criar com verdade dá mais trabalho, mas é o que sustenta.
Porque quando você não se abandona, o que nasce é obra viva, com energia, propósito e alma.
Escrito por @jamesvasques
Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.
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