A máscara que rouba a autenticidade
O repórter
Certa vez perguntei a um colega, repórter experiente, que passou décadas diante das câmeras:
“Por que você não começa a fazer lives?”
Ele respirou fundo e respondeu:
“Na TV não era eu. Era a emissora.
Na live, sou apenas eu.”
Essa resposta me marcou. Porque, por trás dela, existe um dilema que todos nós, criativos, enfrentamos em algum nível: a diferença entre atuar protegido por uma máscara e se apresentar como realmente somos.
A máscara que rouba a autenticidade
Mas afinal, o que é a máscara?
A máscara nasce como um mecanismo de defesa. Em algum momento, aprendemos, ou acreditamos, que não seríamos amados por quem somos de fato, mas apenas por aquilo que os outros esperam de nós. Então, criamos um papel para caber no mundo.
É como o filho que, com medo de perder o amor da mãe, faz tudo o que ela pede, mesmo aquilo que vai contra a própria vontade. Ele obedece não porque é autêntico, mas porque teme ser rejeitado.
Esse movimento, repetido ao longo da vida, vai moldando uma máscara: um jeito de existir que protege, mas também aprisiona.
Quando deixamos que essa máscara tome o lugar do real, nossa expressão autêntica se compromete. Um músico que tenta agradar a todos perde a própria voz. Um publicitário que se esforça para manter a imagem “brilhante” acaba escondendo ideias genuínas, com medo de não serem validadas.
No fundo, a máscara oferece aplausos, mas rouba o reconhecimento verdadeiro. Foi isso que meu colega repórter sentiu: a fama era da persona criada diante das câmeras, não do ser humano por trás dela.
Por trás da máscara, quase sempre, está a vergonha.
A vergonha de não ser suficiente.
A vergonha de não corresponder às expectativas.
A vergonha de mostrar fraqueza.
É essa vergonha que alimenta o impulso de esconder quem somos. E, enquanto acreditarmos que ser vistos equivale a sermos rejeitados, continuaremos presos ao papel, obedientes como o filho que teme perder o amor da mãe.
O preço, no entanto, é alto. Sustentar a máscara exige energia, gera solidão criativa e, no fim, os elogios e o prestígio vão para a imagem projetada, não para a pessoa real. Aos poucos, instala-se o vazio de perceber que o reconhecimento não está sendo dirigido ao que é verdadeiro, mas ao que inventamos para sobreviver.
É nesse ponto que surge a encruzilhada do criativo: continuar sustentando a máscara, colhendo aplausos pela persona, mas distante do próprio real, ou encarar a vergonha de se mostrar imperfeito, arriscando-se a expor ideias autênticas, mas finalmente respirando a liberdade de ser quem é.
Volto ao repórter. Diante da emissora, ele podia se apoiar na máscara. Diante da live, restava apenas ele.
E eu penso: até onde eu também tenho vivido assim? Aliás, te pergunto, até onde você tem vivido assim? Quantas vezes a vergonha nos fez obedecer a um papel que não nos representa mais?
A autenticidade não é ausência de medo.
É a coragem de se apresentar, apesar da vergonha.
E penso que a autenticidade comece justamente aí, quando deixamos de viver para agradar e ousamos existir como realmente somos.
Escrito por @jamesvasques
Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.
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