Apegos Que Bloqueiam a Criatividade
A agência estava mudando. Novos clientes, novas demandas, novas exigências. Luís sabia que, se quisesse crescer, precisaria se adaptar, mas cada nova regra e processo anunciado soava como uma ameaça. Ele estava ali há anos, conhecia o fluxo do trabalho como ninguém e acreditava que criatividade não deveria ser engessada por diretrizes.
Foi então que o proprietário da agência tomou uma decisão: contratar um novo gestor para modernizar a empresa. Alguém que pudesse organizar processos, desenvolver pessoas e garantir que o crescimento não viesse à custa da qualidade criativa.
Assim chegou André, um profissional experiente que, logo nos primeiros dias, percebeu um padrão: as pessoas não resistiam à mudança porque ela era ruim, mas porque se sentiam ameaçadas por ela.
Luís não era exceção.
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Em uma manhã qualquer, André apresentou a um dos liderados de Luís uma nova forma de fazer pedidos para a equipe de criação. Um sistema mais simples, direto e transparente. Luís não se opôs. Apenas observou.
Quando o briefing chegou até ele, algo aconteceu: pela primeira vez, tudo estava claro. Não havia ruídos, retrabalho ou idas e vindas intermináveis. O resultado? Uma equipe mais eficiente e mais tempo para se concentrar na criação.
Aquilo era impossível de ignorar. Pela primeira vez, Luís percebeu que mudar não significava perder liberdade. Significava ganhar clareza.
O Medo de Deixar Para Trás Velhos Padrões
Com o tempo, o que aprendemos como certo e eficiente se transforma em zona de conforto. Luís e sua equipe dominavam a antiga forma de trabalhar e, dentro daquele modelo, tinham autonomia e influência. Mas agora, com os novos processos, havia um risco real: A forma como cada um trabalhava ficaria mais visível, e isso trazia insegurança, sentiam que sua eficiência – ou a falta dela – fosse exposta.
Para Luís, seguir um novo método significava admitir que talvez o jeito antigo não fosse o melhor. E isso era desconfortável.
Mas o que ele não percebia era que a criatividade não se perde quando regras são aplicadas. Ela se esgota quando nos recusamos a questionar o que já não funciona para nós, em nosso atual momento.
O Apego e a Ilusão de Controle
Criatividade é um fluxo natural, mas o apego a velhas fórmulas impede que ela aconteça com leveza. Quando nos agarramos a um jeito específico de fazer as coisas, criamos uma ilusão de controle que nos mantém presos.
O problema não está na mudança em si, mas na forma como nos identificamos com o que já conhecemos. Se acreditamos que nossa criatividade depende de um método específico, temos medo de deixá-lo ir. Se nos apegamos a um status, tememos que a mudança nos torne irrelevantes.
Mas a inovação só acontece quando temos coragem de abrir mão do que já não faz sentido. Criatividade exige espaço para o novo, e esse espaço só surge quando soltamos o que um dia funcionou, mas hoje nos limita.
Desapegar não é perder. É permitir que novas possibilidades se revelem.
Escrito por @jamesvasques
Publicitário, copywriter. Escreve sobre criatividade, autoconhecimento e comunicação.
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